segunda-feira, junho 19, 2006

sentia-se diferente...
não compreendia porque gostavam tanto do pôr-do-sol, do arco-íris, das flores...
nunca havia assimilado a essência da cromoterapia...
a teoria da decomposição da luz era um enigma...
não gostava muito de pessoas...
era lacônica...

sua única paixão eram as borboletas...
o silêncio pleno daqueles insetos, simetricamente perfeitos, hipnotizava...
queria desenvolver asas...
voando, o mundo teria outros ângulos...
a liberdade alada talvez tornasse a vida menos monótona...

uma sensação espasmódica no nariz a despertou...
abriu os olhos e sorriu...
uma borboleta, com o maior número de tons verdes que já havia visto, a fitava...
não sabia há quanto tempo ela estava ali...
mas isso não importava...
aquela presença tão íntima não assustava...
sabia apenas que não deveria perdê-la e resolveu segui-la...

o balançar das folhas provocava um mantra...
o sol desenhava feixes verdes alucinógenos por entre as árvores...
não havia pássaros, nem outros insetos...
estavam sós e isso a confortava...
havia muito tempo que esperava por este encontro...

os verdes começaram a ficar mais escuros...
já não enxergava os detalhes da borboleta...
apenas a silhueta daquela forma que, agora, confundia-se com a de uma fada...
perdeu a noção de tempo...

as árvores, cada vez mais esparsas, anunciavam uma grande clareira formando-se à frente...
o robusto vento tornou-se obstáculo do ritmo lento, porém constate, com que avançavam...

notou que as asas subitamente pararam...
o espécime permanecia no ar, mas não se movia...
hesitou entre prosseguir e também paralisar no lugar...
sentiu-se agitada, mas algo lhe incitava a continuar deslocando-se...
o ar movia-se com intensidade maior, quanto menor a distância...

pouco menos de três passos a sepravam da forma alada quando uma luz surgiu cegando-a...
fechou os olhos e passou com dificuldade mais uma vez um pé adiante do outro...
o vento começou a gritar...
não sentia mais o chão...
teve medo de abrir os olhos...

buscava em vão, no escuro das pálpebras, onde se apoiar...
sentiu que algo lhe batia às costas e esforçou-se para tocá-lo...
não entendeu prontamente o que era...
tentou puxar o objeto estranho para a frente do corpo, mas isso lhe provocou uma dor terrível que a fez abrir os olhos...

entendeu que caía...
reuniu todas as forças para tentar parar no ar...
assustou-se por conseguir sustentar-se, freando a queda...
algo, porém, impressionava ainda mais...
o mundo estava mais belo...

os tons de verde ainda estavam ali, mas resumiam-se às folhas das árvores e à grama que, do alto, remetia a um tapete...
seus olhos captavam luzes jamais vistas anteriormente, manifestadas em diversas sintonias...
tudo era música e os compassos, agora, harmônicos...

olhou para frente e avistou a borboleta que lhe conduzira...
ela não era verde, mas desenhada de fogo, água, ar e terra...
na fração temporal de um suspiro, compreendeu a magnitude da natureza...
uma lágrima se desprendeu dos olhos e cegou-a novamente...

cibele carneiro

7 Comments:

At terça jun. 20, 03:16:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

amiga, tudo de bom!
love u
kisses!!!!!

 
At terça jun. 20, 04:34:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lindo, bem escrito, sensível. Tirando os muitos três pontinhos, estaria praticamente perfeito... :P Ponto pra ti, menina maluquinha!

 
At terça jun. 20, 04:41:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

os três pontinhos resumem um pouco de quem eu sou, marquito... e perfeito, só meu anjo da guarda... texto de menina maluquinha surtada... hehehe... queria colocar aqui aquela carinha do msn com as bochechas vermelhas... amo vc... adorei sua participação e crítica... bom trabalhar contigo.. muito mesmo... beijoooo

eba roni, bunny... miss u...

 
At terça jun. 20, 05:46:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já te disse pessoalmente, vizinha, que adorei o texto e que queria ser a borboleta verde. Ou a menina que se tranforma em borboleta e pode ver tudo do alto de longe, com novas percepções... Às vezes precisamos mudar de ângulo, alterar o foco.

Beijo

 
At quarta jun. 21, 11:00:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

amiga, borboletas são tudo na vida... não é à toa que tenho algumas tatuadas...
adoro os três pontinhos...
adoro escrever e criar asas...
até porque prefiro ser borboleta do que anjo!

 
At quarta jun. 21, 06:41:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

cibele
"o cabaré se inflama quando ela dança" (escutando neste momento)

o grande segredo das fadas é: quando ver uma, não pisque.

 
At sexta jun. 23, 05:13:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

eba, pessoas... fico feliz que, cada um a seu modo, tenha compreendido a mensagem que eu pretendia passar... ponto pra vocês, lindos... a força que vcs me deram alavancou alguns planos que, por enquanto, ainda estão em mente... esta história pode ser bem melhor trabalhada... aguardem... beijo enorme...

 

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